Fabricantes de veículos na América do Sul estão vendo sinais de recuperação, impulsionados pelo crescimento das exportações, reporta Nick Gibbs

Assembly of the Audi A3 Sedan in Curitiba, São José dos Pinhais, Brazil.O Brasil é, de longe, o maior mercado da América do Sul e, há uma década, o país vinha atraindo investimentos de fabricantes que buscavam um crescimento e testemunhou as vendas de veículos ultrapassarem 3,8 milhões em 2012. Depois veio recessão e, em 2016, o mercado caiu para 2,5 milhões. O crescimento do ano passado retornou. Não foi nada espetacular, mas as vendas de veículos subiram 9,2% para 2,24 milhões (dos quais 1,86 milhões eram carros). No entanto, a produção subiu 25% para 2,7 milhões devido a um boom nas exportações, de acordo com dados da associação de fabricantes locais Anfavea.

Este ano o crescimento das vendas foi mais impressionante. Os totais subiram 20% nos primeiros quatro meses, com abril tendo um aumento de 38% - o maior aumento nesta década, de acordo com o site de vendas Bestsellingcarsblog.com.

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Os principais participantes estão mais otimistas novamente. A Fiat Chrysler Automobiles, que no ano passado perdeu sua primeira posição para a General Motors depois que sua participação caiu, acredita que o mercado crescerá 10% este ano, para 2,4 milhões. A longo prazo, a FCA acredita que o Brasil expandirá para 3 milhões até 2022 e está confiante de que a empresa voltará a ter uma margem de lucro de 10-12% na região da América Latina, disseram executivos a investidores em um evento do dia 1º de junho deste ano. Em 2017, o Brasil foi o terceiro maior recebedor de receita da FCA, depois da América do Norte e da Itália.

Enquanto isso, o salto da GM para a liderança ajudou a reverter uma perda na América do Sul e obter lucro em 2017, de acordo com os números da empresa, ajudada por um aumento de 14% nas vendas da Chevrolet em toda a região. No Brasil, no ano passado, a GM teve uma participação de 18%, graças em parte ao Chevrolet Onix. Construído em sua fábrica em Gravataí, no Rio Grande do Sul, o Onix continua sendo o carro mais vendido do Brasil, superando o Hyundai HB20 e o Ford Ka em segundo e terceiro lugares, respectivamente, nos primeiros quatro meses deste ano.

A recessão anterior foi brutal para a região. Em 2013, a indústria empregou 135.343 pessoas trabalhando diretamente na construção de veículos - o maior de todos os tempos. Este número caiu para 109.530 até 2016, de acordo com a Anfavea, e foi pouco melhor no ano passado, com 109.910. Cortes de empregos violentos estavam na ordem do dia em empresas como a VW, que anunciou em 2016 que estaria cortando 7 mil empregos na América do Sul - 5 mil no Brasil e 2 mil na Argentina.

 

Brazil top 10 brand salesA receita de carros vendidos em 2016 caiu para US$ 41,3 bilhões, uma queda de mais da metade em relação ao pico de US$ 87,3 bilhões, atingido em 2013. O investimento de fabricantes de autopeças também caiu de US$ 2,4 bilhões em 2011 para apenas US$ 452 milhões em 2016, com vários fabricantes de automóveis colocando seus desenvolvimentos em espera. Por exemplo, em 2016, a Honda investiu US$ 1 bilhão na construção de uma nova fábrica em Itirapina - um município do estado de São Paulo. Tem capacidade para construir 120.000 carros, mas a fábrica foi desativada após conclusão.

Planos cautelosos de crescimento

Agora, porém, há sinais de vida novamente, à medida que as empresas planejam cautelosamente o crescimento. A Honda anunciou em abril que irá retirar as chapas das linhas de produção de Itirapina no próximo ano para começar a construir carros lá, começando com o hatchback Fit B-segmento. Mas o anúncio foi feito com cautela, pois a montadora revelou que interromperia a produção de carros em sua fábrica de Sumaré, também no estado de São Paulo, e migraria os modelos para Itirapina. A fábrica de Sumare mudará para motores e outros componentes. Em entrevista ao jornal Globo, o chefe da Honda América Latina, Issao Mizoguchi, disse que o crescimento não foi forte o suficiente para sustentar duas fábricas.

Enquanto isso, a Daimler abriu uma nova linha de produção para caminhões leves e pesados da marca Mercedes em sua fábrica em São Bernardo do Campo, no estado de São Paulo. A fábrica é a maior da empresa para veículos comerciais fora da Alemanha e a nova linha é 15% mais eficiente graças ao aumento das melhorias na automação e na cadeia de suprimentos. Também abriu um novo campo de testes para veículos comerciais Mercedes em Iracemápolis, no estado de São Paulo. De fato, 46% de todos os veículos fabricados no Brasil foram fabricados no estado de São Paulo no ano passado e abrigam 27 fábricas automotivas, incluindo a Ford, GM, Honda, Hyundai, Daimler, Scania, Toyota e Volkswagen.

A VW gastou €660 milhões (US$ 767 milhões) modernizando sua fábrica de Anchieta, ao sul de São Paulo, para a produção do Virtus e o novo hatchback Polo. Em abril chegou a notícia de que começaria a produzir seu primeiro utilitário esportivo no Brasil, o pequeno T-Cross, em sua fábrica de São José dos Pinhais, em Curitiba, no estado do Paraná. O T-Cross chega às lojas no primeiro semestre de 2018 para concorrer com a Kwid, da Renault, localizada em sua fábrica, também em Curitiba, e lançado com sucesso em julho do ano passado.

Enquanto isso, no lado das peças, a espanhola Gestamp abriu sua sétima fábrica no Brasil no ano passado, em Betim, estado de Minas Gerais, para atender a FCA fornecendo peças para o Fiat Palio e Siena. A empresa disse que a fábrica de € 24,9 milhões empregaria 82 pessoas até o final de 2017.

 

A Mercedes-Benz Atego 2730 leaves the new assembly line in the brasilian plant Sao bernardo do Campo (Sao Paulo).

A Daimler abriu uma nova linha de produção para caminhões leves e pesados da marca Mercedes em sua fábrica de São Bernardo do Campo

O presidente da Gestamp, Francisco Riberas, estava otimista em relação ao país no ano passado em uma entrevista à AMS, afirmando que a estratégia da Gestamp era manter a coragem na crise. “Alguns dos concorrentes estão liquidados agora. Mantivemos o que temos e tomamos as encomendas mais importantes para o futuro. O que precisamos agora é que o mercado se recupere”, disse ele, acrescentando que estava confiante de que isso aconteceria. “Chegar a 3,5 milhões [por ano] é lógico para uma nação de 200 milhões. É só uma questão de reduzir as taxas de juros”, afirmou Riberas.

Pico de 2012 foi uma "raridade"

No entanto, o Brasil não atingirá os máximos de 2012 no futuro a médio ou longo prazo, prevê a empresa de análise LMC Auto. Ela apóia a visão do chefe da FCA, Sergio Marchionne, de que o mercado atingirá 2,4 milhões este ano, antes de subir gradualmente para 2,7 milhões em 2020 e 2,9 milhões até 2023. Até 2030, prevê um total de 3,5 milhões, mas isto é tudo. "Não vemos o Brasil atingindo o pico de 2012 novamente", disse Augusto Amorim, gerente sênior das previsões de vendas de veículos das Américas à AMS.

Existem boas razões para essa previsão. Uma é que o pico de 2012 foi impulsionado pela dívida. “Em 2012, havia incentivos fiscais para vários setores. Os consumidores compraram carros, mas também eletrodomésticos e móveis. A dívida disparou”, diz Amorim. "O governo ainda está tentando ajustar seu déficit fiscal, então não esperamos que ofereça mais incentivos para a indústria automobilística".

Outra razão poderia ser que aqueles que compraram carros em 2012 estão mantendo-os. “Um modelo usado em 2012 não é tão antigo e pode oferecer mais recursos do que um novo carro básico”, diz Amorim. O Brasil é um mercado sensível ao preço e os preços já altos estão subindo ainda mais. No Brasil, uma média de 30% do preço de compra é tributária, em comparação a 17% no Reino Unido e 6,8% nos EUA, segundo dados da Anfavea. Em 2014, uma legislação mais rígida acabou com alguns dos veículos mais antigos e mais baratos.

RIP Inovar Auto

O mercado premium está no marasmo. No ano passado, ele ficou em torno de 45.000, abaixo dos 60.000 em seu pico. Isso não seria um problema se a política do governo Inovar, destinada a incentivar a produção local, não tivesse persuadido as montadoras de carros premium da Europa a instalar fábricas no Brasil. Mas eles assim o fizeram e aqueles com fabricação localizada cara estão sentindo o impacto. Isso inclui a Jaguar Land Rover, que em 2014 iniciou a construção em Itatiaia, no estado do Rio de Janeiro, a um custo de 750 milhões de reais, visando uma capacidade anual de 24.000. A produção começou em 2016 com os utilitários Land Rover Discovery Sport e Range Rover Evoque, mas no ano passado a empresa vendeu apenas 7.759 veículos no Brasil, dos quais menos de 5.000 vieram da fábrica de Itatiaia.

 

A Audi reduziu seu investimento construindo carros na fábrica da VW em Curitiba e recentemente instalou uma nova linha na oficina lá para o seu sedan A3 e produção de SUV Q3, apesar das vendas decepcionantes.

BMW Santa Catarina Como outras montadoras premium no Brasil, a BMW está lutando, com sua fábrica em Araquari operando a apenas 50% da capacidade

No entanto, a BMW está sentindo dor semelhante ao JLR. Em 2014, a marca alemã construiu uma fábrica em Araquari, no estado de Santa Catarina. De acordo com Helder Boavida, presidente e diretor executivo do BMW Group Brasil, ele agora opera com apenas 50% da capacidade, e as vendas da montadora no Brasil caíram no ano passado para 11.758. A fábrica foi construída em resposta ao Inovar Auto, que penalizou importações com altos impostos, mas agora a BMW está frustrada com a falta de uma política industrial depois que o Inovar Auto terminou no ano passado e não foi renovado, em grande parte porque o Brasil perdeu uma disputa. na Organização Mundial do Comércio, sobre as altas taxas de importação e outras discrepâncias que violaram suas regras de participação. “Precisamos de uma política clara que tenha previsibilidade para definir nossos planos futuros”, disse Boavida recentemente à Bloomberg.

A substituição do Inovar Auto, Rota 2030, destina-se a oferecer incentivos com base na eficiência energética dos veículos, e não na produção local, mas foi adiada. "Há rumores de que a falta de incentivos é uma das principais questões que atrasam o anúncio do Rota 2030 - as empresas querem incentivos, o governo se recusa a dar", disse Amorim, da LMC.

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As exportações lideram

O salto na produção no ano passado foi parcialmente devido a um aumento de 46% nas exportações para 784.718, dando esperança de que eles poderiam crescer para bater o recorde de quase 900.000 em 2005. As exportações caíram na desaceleração, mas não com a mesma força das vendas locais, e os fabricantes agora podem estar esperançosos em outro caminho para reduzir o excesso de capacidade. O presidente da Anfavea, Antonio Megale, em sua introdução à revisão de 2017, creditou os novos acordos comerciais do governo, citando como exemplo o que foi concluído com a Colômbia em dezembro. Ele também disse que os veículos mais seguros e de alta tecnologia do Brasil combinavam melhor com os mercados mais avançados.

As vendas para os mercados locais estão aumentando. No Chile, por exemplo, um país sem indústria automotiva própria, a participação de mercado de carros importados do Brasil saltou de 1,2% em 2014 para 8,8% em 2017, disse Megale. As exportações para a Argentina ficaram em 534.970, com o Brasil, de longe, a maior fonte de veículos para o vizinho em 2017, com 83% de todas as suas importações. O valor de vendas da Argentina para todos os veículos em 884.000 subiu 23% em relação ao ano anterior. Para dar alguma indicação de tamanho, estava acima da Tailândia e abaixo da Turquia.

O número de importações do Brasil superou a produção argentina de 473.408, dos quais 139.967 foram exportados para o Brasil. A produção de veículos no país ficou estável em 2017 em comparação com 2016, e ambos os números ficaram bem longe do recorde de 828.771 em 2011. Investimentos está amadurecendo, no entanto.Este ano, as picapes da classe X da Mercedes começaram a sair das linhas de produção da Renault em Córdoba, enquanto a Groupe PSA está no meio da modernização de sua fábrica em El Palomar para a produção de novos veículos em 2019. No final do ano passado, a VW anunciou investimentos de cerca de € 560 milhões para otimizar processos em sua fábrica em Pacheco, além de preparar a instalação para a produção de um novo SUV, que deve começar a ser lançado em 2020.