Alfredo Leggero, diretor de produção da Fiat Chrysler América Latina, discute o crescimento contínuo da maior fábrica da montadora em todo o mundo, Betim, em Minas Gerais - além de seu novo centro em Goiana, Pernambuco

Joanne Perry (JP): Quão importante é a América do Sul para a Fiat como um local de produção?
Alfredo Leggero (AL): SA América do Sul é muito importante para a Fiat; nos estabelecemos no Brasil desde 1976 e lideramos o mercado há 12 anos. No ano passado, a Fiat Chrysler vendeu cerca de 900 mil veículos na América Latina (excluindo o México), e prevê vendas alcançando 1.3 milhões de unidades em 2018.

Em 2013, a América Latina era um mercado de 5.9m e o Brasil é o quarto maior mercado automotivo do mundo, com 3.6 milhões de unidades vendidas no ano passado. Atualmente, o Brasil está à frente de mercados importantes como a Alemanha, a Índia e a Rússia. Agora, nós estamos tendo um tempo de ajuste dos níveis de vendas, mas projetamos que o mercado recuperará o crescimento a partir do próximo ano, com um crescimento anual composto (CAGR) de 3,2%, nos anos seguintes, de acordo com a IHS e com as nossas próprias previsões.

O Brasil tem um mercado interno forte, com 200m de habitantes e atualmente a menor taxa de desemprego de sua história - apenas 5,5%. O mercado consumidor, a classe média e a população em idade ativa estão crescendo. Além disso, o país ainda tem baixo índice de habitantes por veículo, com um grande potencial de crescimento para as vendas de automóveis. Enquanto nos EUA há um carro para cada 1.2 habitantes, e na Europa um para cada duas pessoas, no Brasil, há um veículo para cada 4.4 habitantes.

JP: Qual o impacto que a formação da Fiat Chrysler Automobiles (FCA) tem nas fábricas de produção da Fiat na América do Sul, e em Betim em particular?
AL: Alinhado à estratégia da FCA, teremos o compartilhamento de arquitetura, motorizações e tecnologias e sinergias de compras, além de uma extensa e moderna infraestrutura industrial. Nossas operações na América Latina estão crescendo. Em 2015, inauguraremos o nosso novo centro automotivo em Goiana, Brasil. A nova fábrica será a mais moderna e tecnológica em todo o grupo.

Fiat Betim

JP: Betim é a maior fábrica da Fiat na América do Sul; ela é usada como uma referência de produção para a região?
AL: A fábrica da Fiat em Betim é a maior unidade de produção de veículos da Fiat Chrysler Group e é única no mundo; um grande exemplo de como gerenciar a complexidade e flexibilidade em uma fábrica de automóveis. A fábrica produz mais de 3.000 veículos por dia e desde a sua abertura que fabricou mais 13 milhões de automóveis e veículos comerciais leves [VCL], contribuindo fundamentalmente para o sucesso da Fiat na América Latina.

Além disso, Betim é um ponto de referência para a sustentabilidade ambiental e social para a Fiat Chrysler e outras empresas ao redor do mundo: a primeira instalação de VCL e automóveis de passageiros de fabricação a receber status ISO 14001 em 1997, e o facilitador para que a Fiat se tornasse a primeira montadora a receber ISO 50001, em 2013.

JP: É verdade que você está aumentando a capacidade em Betim para 950 mil upa?  Se assim for, isso envolverá a construção de novos edifícios e a instalação de novos equipamentos?
AL: Para atender à crescente demanda do mercado brasileiro, a fábrica completou várias reestruturações, especialmente na última década, com a expansão da construção, instalação de novas máquinas, ajustes nos processos de produção e logística e introdução de novas tecnologias que têm habilitado a capacidade de produção para atingir o nível atual de 740 mil veículos por ano - e 811 mil unidades em 2012.


"Em um ambiente como Betim, as pessoas são a principal força de todo o sistema de produção" – Alfredo Leggero, Fiat Chrysler América Latina


A pintura é um atravancador na produção e estamos construindo uma nova oficina de pintura que contará com processos de pintura modernos de tratamento de superfície e terá alta eficiência, atingindo 180 postos de trabalho por hora (JPH) - um dos maiores do mundo. Isto significa uma capacidade de 950 mil veículos por ano.

A reestruturação da fábrica da Fiat em Betim é um trabalho contínuo. A capacidade de produção e flexibilidade foram adaptadas para o crescimento do mercado brasileiro, e este é o segredo para o sucesso desta fábrica incrível. As instalações estão alinhadas ao plano de negócios da Fiat para os próximos cinco anos, anunciado em maio pelo presidente da FCA, Sergio Marchionne, com a introdução de novos modelos e um novo aumento na produção. Betim está sendo preparada para os novos desafios e necessidades que podem enfrentar no futuro próximo.

JP: É difícil aumentar a capacidade de uma fábrica que possui várias dezenas de anos?
AL: É um grande desafio, especialmente se você considerar que estamos adicionando capacidade, que corresponde a uma nova fábrica - cerca de 150 mil veículos por ano. Mas gerenciar toda a complexidade das nossas operações atuais e trabalhos de construção, aplicando os conceitos de Fabricação de Primeira Classe (WCM), o sistema de produção adotado pela Fiat Betim em 2007.

Uma ação extremamente importante para alcançar resultados é o envolvimento de todas as pessoas, para além da aplicação rigorosa dos métodos e normas; em um ambiente como Betim, as pessoas são a principal força de todo o sistema de produção. Nosso esforço é aumentar constantemente as habilidades técnicas, gerenciais, operacionais e metodológicas, valorização da liderança, revelando talentos e desenvolvimento de resultados.

Estas estratégias permitiram-nos alcançar excelentes resultados em 2012 e em 2013: aumentando a nossa produtividade em 18%, com uma redução significativa dos custos de transformação; melhorando a qualidade do nosso produto em 14%; e melhorando os nossos serviços de logística em 26%.

Fiat Betim
JP: Em Betim você também internaliza materiais e alimentação de linha; Quais resultados foram alcançados por essas mudanças?
AL: A internalização foi um grande sucesso. Enfrentamos o desafio através da aplicação de novos conceitos de alimentação de linha e processamento de materiais, garantindo a integração das pessoas e a criação de engenharia logística robusta para processar a grande complexidade desta fábrica.

Os principais resultados são a melhoria dos fluxos e otimização de avanço de linha e um aumento na eficiência do armazém. Tudo isto proporcionou uma melhoria de 30% do nível de serviço de logística e redução de custos em cerca de 20%.

JP: Além disso, a Fiat está construindo uma nova fábrica em Goiana, Pernambuco. Qual será a gama de instalações neste local e quais os modelos serão feitos lá?
AL: A fábrica da Fiat em Pernambuco, sua segunda fábrica no Brasil, será o centro de um polo industrial automotivo altamente integrado, incluindo um parque de fornecedores que fornecerá 17 linhas de componentes estratégicos. É uma fábrica completa, com prensas, BIW [carroçaria  branca], pintura, montagem e um centro de comunicações. A fábrica terá um layout moderno, otimizado, com fluxos de materiais e de produtos concebidos para os mais altos padrões WCM. Ele começarão a produção no início de 2015. Três modelos serão produzidos lá; o primeiro será o Jeep Renegade.

JP: Quão importante será ter um grande parque de fornecedores em Goiana?
AL: A proximidade do parque de fornecedores traz vantagens logísticas e permitirá operações a tempo certo e just-in-sequence; esta situação fornecerá grandes vantagens de custo e tempo. Instalar o parque simultaneamente com a construção da nossa fábrica também representa uma oportunidade para a integração de processos e a criação de um centro de produção de primeira classe.

JP: Considerando a iniciativa do governo como o Inovar-Auto no Brasil, você como um fabricante de automóveis considera este programa problemático ou positivo?
AL: Este programa é positivo e o apoiamos desde o início. Ele incentiva P&D e também a produção de veículos mais eficientes em termos de energia com emissões mais baixas. Estamos focados nestas prioridades. Por exemplo, o Novo Uno com motor de 1.4 litros ganhou uma nota A no PBEV 2014 (Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular). Este carro emite 97.4g de CO2 fóssil   - Um número abaixo das metas do Inovar-Auto para 2017 e as leis europeias em vigor. Vale acrescentar que 97,5% dos veículos vendidos pela Fiat no Brasil são flex fuel, ou seja, eles podem funcionar com gasolina mas também etanol, um combustível totalmente renovável, que praticamente neutraliza CO2 na atmosfera através do plantio de cana-de-açúcar.

Fiat Betim
JP: Você concorda que a paisagem de fabricação de automóveis na América do Sul está se tornando significativamente mais competitiva com a chegada de outros OEMs, como a JAC e a Chery?
AL:
O Brasil tornou-se um bom lugar para o investimento e a indústria de automóvel atesta isso. O mercado foi aberto aos veículos importados em 1992, e a partir desse momento a competição só tem crescido. Naquele ano, haviam cinco empresas de fabricação no Brasil. Agora, existem 16 fabricantes de automóveis com produção nacional. Em 1992, 25 modelos estavam em oferta no mercado; no ano passado, haviam 220. Na década de 1990, 98% das vendas foram partilhadas por quatro grandes empresas: Fiat, VW, GM e Ford. Desde então, a participação destes quatro grandes caiu para 67%. No entanto, as vendas da Fiat estiveram estáveis desde 1994. Agora, a empresa tem cerca de 22% do mercado brasileiro.

JP: Considerando o futuro, você espera que os volumes de capacidade e de produção da Fiat aumentarão na América do Sul, a médio e longo prazo?
AL:
Vendas LATAM devem aumentar nos próximos cinco anos, com a força de novas ofertas de produtos. No ano passado, cerca de 900.000 unidades foram vendidas na região. Planejamos aumentar em 43% - 400.000 unidades - até 2018. Desta forma, pretende-se alcançar 1.3 milhões de unidades vendidas neste mercado, o que significa uma participação de 22,4%. Neste cenário, a Fiat e marcas Jeep serão os principais motores do crescimento do volume LATAM. Nós estimamos um aumento de vendas de 220 mil unidades para a Fiat e 180.000 para Jeep até 2018; Fiat venderá 1.1 milhões de carros e 200.000 Jeeps na América Latina.